Estamos a, aproximadamente, quinze dias das
eleições autárquicas mais interessantes de há muitos anos a esta parte. Serão
as primeiras eleições em que os candidatos independentes terão realmente uma
palavra a dizer em vários concelhos, dos mais variados distritos.
Muitas destas candidaturas surgiram por
rupturas com as máquinas partidárias e outras por dinâmica espontânea. Mas a
verdade é que irão mexer com o habitual xadrez autárquico de Portugal,
sistematicamente disputado pelo triângulo PSD – PS – PCP. Não menos verdade é
que, independentemente de disputas entre eles, os partidos portugueses detestam
tudo aquilo que escapa ao seu controlo, à sua influência. É esse controlo e essa
influência que os tornou um polvo temível, que se apoderou de todos os sectores
de decisão do País, subjugando todas as decisões aos seus interesses e aos
interesses daqueles que os alimentam e os protegem. Os partidos sempre agiram
como se fossem donos dos votos daqueles que os apoiam, ou apoiaram em
determinada altura. Ele é o eleitorado comunista, socialista, social-democratas
ou de outros mais periféricos. Mas tudo tem de ter rótulo e dono.
Da minha geração, mais ano, menos ano, a
esmagadora maioria dos que conheço com curriculum político e passado
profissional quase todo baseado na política, são do mais fraco intelectual e
profissionalmente que conheci. Talvez tenha tido azar com aqueles que me cruzei
e seguiram o caminho da política “profissional”. Mas ao fim de uns anos, ao
lermos o curriculum, até parece que estamos perante alguém com elevada
competência. Antes dos 18 já pertenceram a qualquer órgão de juventude
partidária (fruto de andarem a carregar umas bandeiras e colar uns cartazes).
Pouco depois de concluírem um curso (na maioria dos casos com pouca sabedoria e
daqueles que requerem pouca exigência) são logo convidados para um cargo político
local, ou uma função resultado do cartão partidário. Como são muito “flexíveis
ao nível da coluna vertebral”, tem facilidade em “trabalharem” segundo as
ordens daqueles que os sustentam nos lugares. E isso tem prémio, geralmente a
passagem por mais uns cargos e /ou funções, cada vez mais bem pagas, onde
devido à capacidade de pouco ou nada fazerem e de acatarem toda e qualquer
ordem, ganham preparação para novos voos. Quando chega a idade “politicamente
adulta”, têm um curriculum que dá gosto ver, tamanha a quantidade de cargos e
funções que desempenharam. E assim se vai construindo uma carreira em Portugal.
Dai que não seja de estranhar o ataque
cerrado às candidaturas e candidatos independentes, que no caso de Grândola até
tem duas, mas em especial aquela que apoio, que está provocar muito
“desconforto partidário”.
Ser membro de uma lista independente não significa
não ter ideologia política ou não ter filiação partidária. Até porque todos
nós, excepto alguns casos raros, temos ideologia, temos convicções, temos
simpatias que nos formam enquanto pessoas. Mas tais factos não impedem que em
determinado momento pessoas dos mais diversos quadrantes se sintam unidas por
um projecto específico, que entendem ser o melhor para o fim a que se destina.
Pior serão projectos partidários que
recebem o apoio de pessoas que nunca lhe foram próximas, nem ideológica, nem humanamente,
apenas para defenderem interesses próprios do partido e em especial interesses
pessoais. Pior ainda, até para defender interesses de interpostas pessoas!
Frequentemente oiço dizer que a política
está como está porque são sempre os mesmos, que não temos pessoas novas a
contribuir. Pois bem, agora que as “pessoas novas” aparecem, oiço, embora uma
pequena minoria, dizer que são só pessoas sem currículo politico! Estranho, no
mínimo.
É comum a ideia que, principalmente a
nível local, o que contam são as pessoas e os projectos e não os partidos. Pois
bem, aqui estão as pessoas, o projecto e nada de partido. A mesma minoria
clama, sem partido nada farão, o que querem é poder. Estranho, no mínimo.
Uma lista por ser independente pode, e
deve, albergar pessoas com as mais variadas sensibilidades políticas, desde os
apartidários (não quer dizer sem ideologia, porque isso, bem ou mal, mais ou
menos vincado, todos temos) até aos partidários da direita à esquerda.
Importante é que haja uma linha mestra, um padrão de acção e um projecto
unificador, coeso e consistente, que os una a todos e em que todos acreditem. O
contrário é que é de estranhar, no mínimo.
Numa lista (independente ou partidária),
especialmente a nível local, o grave não é coexistirem pessoas que noutros
tempos tiveram ao lado de outro partido. Grave é quando essas pessoas não sabem
explicar o porquê de no passado terem estado de determinado lado e o porquê de
agora estarem noutro. O passado e as opções políticas tomadas não se mudam, não
se escondem, nem se branqueiam, explicam-se e são tão mais aceites, quanto mais
coerentes o forem. O contrário é que é de estranhar, no mínimo.
Por isso, ficaria muito feliz se tempo que
falta, a campanha se centrasse à volta do que cada um se propõe fazer de melhor
pelo nosso concelho, sem falsas promessas e demagogia. Será muito mais
proveitoso para o concelho, muito mais esclarecedor para os grandolenses e
muito mais ético para os intervenientes, do que procurar rotular os outros e as
listas a que pertencem, sem primeiro olhar para eles próprios. Na política não
deve, e não pode, valer tudo.
Em qualquer das listas, sem excepção,
vislumbro pessoas competentes (mais numas, do que noutras), identifico pessoas
com vontade genuínas de fazer o melhor (mais numas, do que noutras), encontro
amigos (mais numas, do que noutras). Não é por estarem numa lista diferente
daquela que apoio que lhe retira tais atributos. Contudo, se é na lista que apoio
que encontro a esmagadora maioria destes atributos, então só posso querer que
ganhe e no futuro consiga trabalhar com os outros que referi.
O maior sinal de maturidade política que
os grandolenses podem dar, será contribuir para uma campanha esclarecedora e no
dia após as eleições trabalharem TODOS para um futuro melhor, independentemente
das listas pelas quais foram eleitos. Para isso, muito contribuirá a forma como
irá decorrer a campanha, não se criando e fomentando ódio e rancores que, em
nada elevam os intervenientes e os projectos a que pertencem.
Por último, não consigo vislumbrar valores
maiores do que a família e a amizade, que a serem verdadeiras, jamais alguma
questão política deve ultrapassar. Pensem TODOS duas vezes de que valerão
algumas atitudes, que depois poderão não ter reversão. O meu amigo de ontem,
continuará a sê-lo hoje e mais ainda amanhã, senão, afinal não o era!
Com um abraço cordial
Vítor Martins Romão